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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Vídeo de Eugen Jochum regendo o primeiro movimento da “Nona Sinfonia” de Bruckner

O maestro Eugen Jochum

C. N.

 

Para mim, o primeiro movimento (“Feierlich”, Misterioso) da Nona Sinfonia de Bruckner é o mais belo movimento sinfônico jamais composto.

“Se considerarmos”, escreve Lauro Machado Coelho em seu O Menestrel de Deus – Vida e Obra de Anton Bruckner, “as múltiplas reminiscências que ela contém de obras anteriores – o Kyrie e o Miserere da Missa em ré menor; o Benedictus da Missa em fá maior; a fuga do [admirável][1] Finale da Quinta; o tema principal da Sétima; o Adagio da Oitava [como disse o maestro Celibidache, a mais importante sinfonia de todos os tempos] –, a Sinfonia n. 9 é realmente uma síntese da obra de Bruckner e uma despedida”. (Com efeito, Bruckner morreu antes de concluí-la; leia-se, aliás, Reflexões sobre a “Nona Sinfonia” de Bruckner, por Günter Wand). Mas continuemos a ler Lauro Machado Coelho, agora especificamente sobre o primeiro movimento da Nona: “De forma-sonata tritemática, o Feierlich [de cerca de 25 minutos] possui uma longa introdução de uns sessenta compassos com um amplo motivo de notas longas apresentado pelas oito trompas em sequências de crescendo e diminuendo. Os primeiros 96 compassos deste movimento contêm oito ideias diferentes, numa declaração inicial de intenções que nunca antes tivera tal complexidade. O [épico] tema principal surge, depois disso, num tutti fortissimo, em acordes de oitava descendente. Liricamente expressivo [e de grande beleza], o segundo tema é cantado piano pelos violinos com acompanhamento do trompete. O terceiro grupo temático trata, sob a forma de ostinatos, dois elementos, em ré menor e sol bemol maior. O desenvolvimento utiliza várias dessas ideias em um crescendo contínuo que culmina numa recapitulação liberadora da tensão. E há, então, uma retomada ordenada dos temas de base, que os metais incandescentes conduzem a uma coda de extrema intensidade, com dissonâncias ousadas, como se todas as forças humanas estivessem sendo levadas a seu limite máximo”.

Precisa descrição. Mas por que exatamente digo que este primeiro movimento é o mais profundo e belo movimento sinfônico jamais escrito? Afinal, como veremos em outro artigo, com os mesmos recursos musicais se podem dizer e alcançar coisas diferentes... Fiquemos, antes de tudo, com a palavra da neokantiana Susanne Langer, que nisto acerta de todo: Sabemos muito bem por que malogra uma obra de arte; mas podemos dizer bem menos sobre as razões por que uma obra de arte é bem-sucedida. E fiquemos, até por isso mesmo, com esta opinião de um ouvinte, que escreveu sobre o Feierlich bruckneriano: “Oh epic masterpeace!” – Oh, obra-prima épica!

No vídeo que se verá abaixo – uma verdadeira preciosidade –, temos Eugen Jochum regendo este Feierlich. Jochum (1902-1987) é o maestro bruckneriano por excelência.[2] Austríaco como Bruckner, ele é tal, porém, por outros dois caracteres principais: como o compositor, era organista – e católico. No vídeo, vemos Jochum já ancião, mas cabal senhor de seus meios e da dinâmica de uma numerosa orquestra sinfônica. É tocante vê-lo, com seu porte elegante e suas feições teutônicas, alcançar beleza por meio de seus músicos, assim como, análoga e sobre-excelentemente, Deus governa o universo e o leva a seu fim mediante causas segundas.



[1] Tudo quanto vier entre colchetes será meu.
[2] Como disse outro ouvinte deste primeiro movimento com Jochum, “I love Celi, Kubelik, Wand, HVK, Bernstein, Kna, Klemperer, Schuricht, Walter, Asahina, Barbirolli, Beinum, Giulini, Horenstein, et cetera. But THIS is Bruckner”.

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