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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Como penetrar o “De Institutione Musica” de Boécio


C. N.

Esta preciosidade filosófica pode, à primeira vista, assustar o leitor leigo moderno, e não poucos já nos escreveram dizendo-a impenetrável. Não o é. Naturalmente, sua leitura exigirá certo esforço matemático, até porque boa parte de suas fórmulas Boécio as deixa irresolutas. Para penetrar este mundo, porém, basta antes de tudo sentar-se diante de um piano, onde, obviamente, há teclas pretas e brancas; a cada grupo de duas brancas sucede-se um grupo de três pretas, e vice-versa. Toque-se a tecla branca anterior a um grupo de duas pretas e, depois, a branca anterior ao grupo seguinte de três pretas: ver-se-á então que o som extraído da segunda tecla branca é mais agudo que o da anterior. Pois bem, a diferença de altura musical entre as duas teclas constitui o que se chama intervalo de quarta; e, se agora se toca outra vez aquela primeira tecla branca e depois a tecla branca que se segue à primeira preta do segundo grupo de três pretas, perceber-se-á que a altura musical é maior que a anterior – é o intervalo de quinta. Se se nota, ademais:
a) que dos intervalos anteriores se podem derivar todos os intervalos musicais;
b) que, quando entre duas teclas brancas há uma preta, o intervalo musical entre aquelas é de um tom;
c) e que entre duas brancas consecutivas (sem mediação de uma preta) o intervalo é de um semitom;
ter-se-á penetrado o universo da música e dado um primeiro passo com respeito à obra de Boécio. Para poder enfim penetrá-la, não se necessita, além dessas simples noções musicais, senão de meros rudimentos matemáticos:
• soma, subtração, multiplicação e divisão de números positivos (inteiros e fracionários);
• ordenação de números fracionários.
O mais é esforço intelectual, sempre recompensado pelo repouso na Verdade.

Em tempo: A melhor tradução que conhecemos da obra de Boécio é a de Salvador Villegas Guillén ao espanhol (Anicio Manlio Torquato Severino Boecio, Tratado de música, Madri, Ediciones Clásicas Madrid, 2005).

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