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domingo, 25 de setembro de 2016

“Wit”, de Mike Nichols – uma película surpreendente



Carlos Nougué

Memento mori.

Mike Nichols (Berlim, 1931-Nova York, 2014) foi um dos cineastas que introduziram a revolução marcusiana no cinema americano: são dele The Graduate (A Primeira Noite de um Homem), Carnal Knowledge (Ânsia de Amar) e The Birdcage (A Gaiola das Loucas), entre outras. Não era destituído de talento, mas o fim de seus filmes o condenava à cloaca das artes.
Um dia, porém, chamou-me um amigo a ver Wit (2001, telefilme baseado numa peça de Margaret Edson), do mesmo Mike Nichols e com a atriz inglesa Emma Thompson – e o filme surpreendeu-me muito, por várias razões.
Antes de tudo, porque se trata de filme de fundo religioso, cristão, como se patenteia em uma de suas últimas cenas (a da visita à moribunda de uma antiga professora sua), cena inesquecível. A ideia orgânica do filme é exatamente esta: a salvação, in articulo mortis, de uma ovelha desgarrada. A personagem principal, uma professora universitária de literatura (Emma Thompson), inglesa, ateia e cheia de wit (esprit, espirituosidade, essa nota tão característica da alma inglesa de tempos atrás), descobre-se com câncer muito grave. A partir daí, boa parte da película se desenrolará num monólogo impressionante de Thompson em close, dirigindo-se sempre à câmara – e isto sem resvalar a película para algo anticinematográfico. Com efeito, em mãos menos hábeis (e é sobretudo aqui que surpreende Nichols) tal recurso faz fracassar artisticamente um filme. – Mas a película conta ainda com a beleza da trilha sonora: músicas de Arvo Pärt, de Henryk Górecki e de Dmitri Shostakovich.
Duas notas negativas, porém.
• Uma intrínseca: ao final da película, uma cena mostra os seios da protagonista. É o mesmo problema de Nostalgia, de Andrei Tarkovski (para entender o que digo, vide “Nostalgia”, de Andrei Tarkovski e “Rope”: uma pérola de Alfred Hitchcock). É verdade que, como em Nostalgia, a cena não se reveste de nenhum erotismo intencional. Mas isto não elimina o problema.
• A outra extrínseca: no Brasil, teve-se o péssimo gosto de dar ao filme um título com sabor de “autoajuda” (Uma Lição de Vida). Mas não, de modo algum: trata-se de uma como lição de morte (até porque o filme não deixa de assinalar, crítica e precisamente, o mascaramento da morte pela indústria médica). – Isso me lembra, aliás, algo que me sucedeu a mim mesmo. Traduzi cartas de Sêneca a Lucílio na quais o estoico defende o suicídio (parece que depois o filósofo mudou de parecer, mas Nero acabou por condená-lo a suicidar-se...). Pois bem, qual não foi meu assombro ao ver que o título comercial dado ao livro foi Aprendendo a Viver!?   

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