2. Abertura (Overtüre) em sol menor (G. A. 63)
Esta Abertura
é uma das mais originais das obras brucknerianas de estudo. Com efeito,
encontram-se nelas já importantes traços do futuro sinfonista, conquanto ainda
seja algo acentuada a presença de outros: Schubert, pela semelhança dos
primeiros compassos com Alfonso e
Estrella; e Mendelssohn, sobretudo pelo tema de seu Allegro principal. Mas
a feição geral é antes clássica. De fato, Bruckner pode aqui familiarizar-se com
a forma sonata, ainda que o faça antes para ir além dela.
Analisa-a Langevin:
«Adagio –
Allegro non tropo. 293 compassos, C, sol
menor.
Dois elementos fortemente contrastados formam a
matéria da introdução lenta: o tutti em salto de oitava (comp. 1), imediatamente
seguido de um solo de violoncelo (comp. 3) que se desenvolve brevemente segundo
um tratamento contrapontístico com reforço do ritmo. O Allegro principal toma
impulso, no compasso 23, nos violinos, sobre um staccato das violas. Logo,
largos acordes de toda a orquestra, aos quais respondem rápidas cascatas das
cordas, afirmam o caráter imponente que o compositor pretende dar à sua obra. A
melodia do segundo grupo (comp. 64, em si
bemol maior), igualmente tocada pelos violinos, é anunciadora dos grandes temas
líricos das futuras sinfonias: ninguém além de Bruckner teria podido escrever
este episódio, muito modulante, com a resposta, igualmente típica, das madeiras
(comp. 72).
O
desenvolvimento abre-se, no compasso 92, sobre os grandes acordes do primeiro
grupo. É extenso (100 compassos) e muito animado. A reexposição (comp. 192)
efetua-se regularmente no tom principal; é sensivelmente reforçada, e desemboca
numa vasta peroração (quase um segundo desenvolvimento!), fundada também na
ideia secundária do primeiro grupo. Quando reaparece o tema principal (comp.
281, na trompa), dá lugar ao que bem se pode chamar o primeiro traço de gênio de
Bruckner: uma resposta, de odor deliciosamente pastoral, dos clarinetes
seguidos dos oboés, sobre calmos conjuntos de cordas. E a orquestra inteira
une-se para os largos acordes conclusivos.
Composta de 24 de dezembro de 1862 a 23 de janeiro de
1863, a Overtüre foi impressa pela
primeira vez em 1921 (Universal Edition), com indicações de movimento e de
acentuação completadas por Josef von Wöss. No mesmo ano, foi executada sob a
regência de Franz Moissl.»